Acanhamento da oposição e silêncio da imprensa favorecem gestão de “Allyson influencer”
Por Fabiano Souza
O atual prefeito de Mossoró, “Allyson Influencer” Bezerra (Solidariedade), por enquanto voa em céu de brigadeiro. Governa a cidade, mandando e desmandando com uma oposição comedida e sem um projeto que apresente consistência. O acanhamento da oposição e o silêncio do jornalismo de ocasião permitem ao “prefeito influencer”, remar em um mar de águas tranquilas, sem risco de naufragar.
A falta de um grupo ativo que faça oposição consistente, respaldada por uma força representativa com forte amparo popular, faz com que casos graves registrados na atual gestão, como perseguição política, assédio moral, desaparecimento de vacinas, falta de equipamentos e material básico em Unidades Básicas de Saúde(UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), propagando enganosa (obras realizadas com recursos do Finisa, sendo anunciadas como recursos do IPTU), além de aditivos e contratos sem licitação, com empresas recém-criadas, entre tantas outras irregularidades, tem sido tratadas de forma natural.
Tanto pela oposição inerte, quanto por veículos de comunicação que até o final da gestão anterior agiam de forma atuando “em defesa do povo”, mas que passaram a integrar o consórcio da imprensa, a serviço do prefeito Allyson Bezerra. Consórcio esse que teve inclusive uma lista divulgada, o que acabou rendendo queda de secretário e mudanças internas no setor de comunicação social da Prefeitura de Mossoró.
O problema maior em Mossoró é que opositores patinam entre si, enquanto “Allyson Influencer” “reina” sozinho. O que se fala pela cidade é que o projeto de oposição só vai funcionar caso se juntem em um só projeto frente a “Allyson Influencer”. Mas este é um desafio que se mostra cada vez mais complicado.
Também contribui a subserviência de parte da Câmara Municipal de Mossoró. Com larga maioria no Legislativo, o prefeito “influencer” tem conseguido aprovar projetos às pressas, sem discussão e com consequências graves para a cidade, sobretudo para os servidores públicos, a exemplo da reforma administrativa aprovada sem qualquer discussão (veja análise adiante).
A derrota em 2020 parece ainda não ter sido digerido pela ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PP), que praticamente desapareceu no cenário político e corre o risco de sofrer mais uma derrota em 2022, caso não comece a mostrar propostas através de um movimento midiático forte e consistente com fez Allyson “Influencer” em 2020. Rosalba foi derrotada por falta de uma estratégia de mídia forte e atuante que despertasse interesse não apenas do seu eleitorado, mas de indecisos.
Passada a eleição, seria o momento de repensar estratégias de atuação com vista a uma candidatura em 2022, e com isso a evidência do seu nome como força política local, no entanto isso não vem ocorrendo e outros nomes começam a ganhar espaço e colocam em risco um eventual projeto de Rosalba e dos Rosados em se manterem como força politica tradicional em Mossoró (veja postagem abaixo).
Embora diferente de Rosalba, e mesmo assim, sem nenhuma consistência em termo de promoção de suas ações políticas, o deputado Beto Rosado(PP), patina e pode ter seu projeto para 2022 (ainda não apresentado), fadado a um naufrágio político com consequências desastrosas.
Além de Rosalba e Beto, os Rosado ainda tem Larissa, que por enquanto se propõe a fazer uma tímida oposição ao “prefeito influencer”, e de certa forma ignora o cenário estadual e federal, como ocorre com grande parte dos representantes da classe política potiguar.
Com isso, o reino do “prefeito influencer” segue navegando em mar tranquilo, enquanto a frutífera árvore dos Rosado parece perder sua vitalidade e força produtiva, correndo sério risco de extinção no cenário político potiguar.
Rosados: de árvore fértil a sequoia em extinção
“Um dos municípios mais prósperos do interior do Nordeste, Mossoró (RN) é o maior produtor de petróleo em terra e de sal marinho do país. Mas o solo da cidade, localizada a 285 km a Oeste de Natal, produz mais que ouro negro e riqueza mineral. Brotou-se ali, no semiárido potiguar, uma das árvores genealógicas mais férteis de que se tem notícia na história recente da política brasileira: a família Rosado”.
Essa parte do texto de uma matéria assinada pelos jornalistas Edson Sardinha e Renata Camargo para o Congresso em Foco, publicada em abril de 2011, com o título: Em Mossoró, só dá político na árvore dos Rosados, de longe se aplica a realidade atual.
A árvore parece ter perdido sua vitalidade para produzir políticos como em 2011, quando tinha nada menos que oito representantes da família Rosado em Mossoró, defendendo mandatos. Na época exerciam mandato eletivo, a então governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), que renunciou ao Senado para assumir o governo, passando pelos primos deputados federais Betinho Rosado (DEM-RN) e Sandra Rosado (PSB-RN), por dois deputados estaduais (Leonardo Nogueira-esposo de Fafá, e Larissa Rosado, filha de Sandra) e dois vereadores e terminando na prefeita da cidade, Fátima Rosado (DEM), a Fafá.
Hoje os cargos eletivos ocupados por Rosados se restringem ao mandado de deputado federal, ocupado por Beto Rosado (PP) e de vereadora, ocupado por Larissa Rosado do PSDB.
Ambos deverão ter a companhia da ex-prefeita de Mossoró Rosalba Ciarlini Rosado (PP), nas eleições de 2022, resta saber se estarão juntos ou em lados opostos, para tentar manter a presença de representantes da família Rosado, no cenário político potiguar.
Reforma que não informa, deforma
(Márcio Alexandre)
São 541 páginas. Mais de 500 apenas de anexos. São mais de 500 motivos para se discutir, amiúde, cada artigo, cada parágrafo, cada inciso, cada alínea. São centenas de motivos para se analisar detidamente cada anexo.
E há um grande motivo para que a proposta de reforma administrativa aprovada pela Câmara Municipal de Mossoró fosse no mínimo lida e relida pelo menos duas vezes: ela mexe com a estrutura da máquina administrativa, aquela que deve servir ao povo e não ao gestor de ocasião.
Ela mexe com a carreira, os sonhos, os propósitos, os anseios, as pretensões dos servidores públicos. E a priori, ela limita a carreira, tolhe os sonhos, mitiga os propósitos, reduz os anseios e minimiza as pretensões de quem serve e de quem precisa dos serviços da municipalidade.
Com a reforma, pessoas com apenas o diploma de Ensino Médio poderão ser nomeados como diretor de escola e unidade básica de saúde? Há quem diga que sim.
Pode ser que não seja nada disso que estou dizendo? Pode. E havia uma maneira simples, correta, direta e necessária para evitar que se lançassem dúvidas sobre as reais intenções da proposta: debatê-la.
A justificativa da urgência foi de uma flacidez atroz. Não se põe de pé. Dizer que precisava ser votada logo por causa de senhas é um atentado à inteligência.
A reforma administrativa dialoga com a futura – e prometida pelo prefeito – gestão democrática nas escolas?
São muitos questionamentos, muitas incertezas e uma grande verdade: foi um grave erro não discuti-la. Para o prefeito, que está bancando as mudanças (necessárias, e por assim ser imperioso que se debatesse, inclusive à exaustão). E para os vereadores que a aprovaram porque claramente não tiveram a oportunidade – ou não quiseram ter – de ler o texto, analisar os anexos, com o rigor, a atenção e o cuidado que o tema exige.
Pelo que temos visto, lido e ouvido, não houve sequer como se informar como realmente será a proposta na prática. E não há segredo: reforma que não informa no mínimo deforma.