João de Arthur: Folclorista patuense mantém viva a tradição do Boi de Reis
O Prosa Artista conversou com um dos maiores símbolos vivo da cultura popular do interior do Rio Grande do Norte. Com 84 anos de idade, João Artur ainda mantém viva em sua cidade natal, Patu, no Médio Oeste Potiguar, a tradição do Boi de Reis, uma das mais autênticas representações da cultura popular nordestina. João Artur é casado com dona Rita Alves onde tiveram nove filhos, cinco homens e quatro mulheres. Durante muitos anos ele exerceu a função de capoteiro onde tirava o sustento de sua família.
Seu interesse pelo folclore despertou na década de 70 lendo uma revista, que trazia uma reportagem que dizia que a “Diversão era Necessária”. Frase que despertou sua atenção em promover alegria e diversão na pacata cidade de Patu.
Segundo conta o próprio João, foi a partir desse momento que ele despertou nele a ideia de criar um Boi de Reis para promover a alegria em eventos culturais da cidade e da região como, por exemplo: Carnavais, festa da padroeira ou quando fosse convidado para participar de comemorações especiais ou nas vitórias de candidatos eleitos. Independente de quem vencesse a eleição, o Boi era convidado para comemorar a vitória e promover a alegria dos eleitos.
Mesmo com seus 84 anos, João de Artur ainda procura manter viva a cultura de sair às ruas vestindo boi de reis e bonecos gigantes. Mesmo com a falta de interesse das novas gerações em conhecer um pouco da história de sua gente e suas tradições.
Vivendo de modo simples e das lembranças que guarda através de fotografias desgastadas pelo tempo, ele lembra com saudosismo dos tempos em que era convidado por políticos de todo o RN, para ministrar palestras e aplicar o que ele chama de “elixir” da alegria, que consistia em sua apresentação de gala com bois de reis e os bonecos gigantes representando a imagem de Câmara Cascudo e Gabriela, dois dos principais personagens que saem as ruas seguindo o cortejo do Boi de Reis.
Seguindo o exemplo da Academia Patuense de Letras e Artes (APLA), que em 2017 prestou homenagem ao Folclorista João de Artur concedendo ao mesmo o título Honorífico de reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à cultura do município de Patu e ao Estado do Rio Grande do Norte e manter via a história de seu João de Artur, nós do portal Oeste em Pauta, através desse espaço tivemos uma prosa com João de Artur, que dividimos agora com nossos leitores.
Por Fabiano Souza
Prosa de Artista: Conte-nos um pouco sobre suas origens. Diga-nos onde nasceram, seus pais, irmãos, casamento, esposa filhos.
JA: Nasci no Sítio Patu de Fora, município de Patu-RN, filho de Artur João da Silva e Alexandrina Esmeraldina de Souza. Meus irmãos são: Maria das Dores da Silva, conhecida como Maria de Artur (In memoriam), Júlia Maria da Silva, Helena Silva (In memoriam) e Paulo Artur da Silva (In memoriam). Sou casado com a patuense Rita Alves, onde tivemos nove filhos.
P.A.: Como foi sua infância e juventude aqui na região?
JA: A minha infância foi de criança pobre, ajudando aos pais na lida diária do campo como agricultor. Quando jovem, exerci a profissão de sapateiro, carpinteiro, marceneiro, capoteiro e pandeirista.
P.A.: O senhor frequentou a escola, ou como a maioria de sua época teve que ir logo trabalhar para ajudar os pais?
JA: Ajudava aos meus pais na agricultura. Meu pai Artur João era professor, ensinando aos filhos as primeiras letras. Quando criança frequentei as primeiras séries no grupo escolar da comunidade Patu de Fora.
P.A.: Quando surgiu seu interesse pela cultura popular e o folclore?
JA: Nos anos 70, lendo uma reportagem em uma revista que dizia que a diversão era necessária. A revista mostrava a foto de um Boi de Reis do Maranhão. Dizia também que o Boi era feito de Toqueira e Chita. Eu não sabia o que era Toqueira e resolvi perguntar a Miguel de Cidin (Miguel Câmara Rocha), que respondeu que toqueira era taboca, bambu. Eu fiquei com aquela imagem do Boi na cabeça e resolvi tentar fazer um e deu certo.
P.A.: Quem foram os grandes incentivadores para que o senhor iniciasse esse trabalho?
JA: Incialmente eu recebi a ajuda e inventivo de Miguel de Cidin (Miguel Câmara Rocha), ex-vereador e promotor da cultura e do esporte em Patu. Recebi também o apoio de Dr. Epitácio, ex-prefeito de Patu, do seu Filho Epitácio Filho, do ex-secretário de Cultura, Ricardo Veriano e atualmente do meu genro, professor Aluísio Dutra de Oliveira.
P.A.: O senhor já participou de grandes eventos e momentos com artistas de renome nacional como o cantor Lobão. Quais desses eventos o senhor destaca e quais os artistas com quem o senhor teve mais contato?
JA: A apresentação com o cantor Lobão foi em Caicó através da ajuda de Dr. Epitácio Filho e do Movimento Patu 2021. Participei em Caicó ao lado do grande Magão, de atividade carnavalesca no Bloco do Magão. Participei na praia de PIPA, do FLIPAUT – Festival Alternativo de Pipa com Epitácio Filho; e de carnavais em várias cidade do Rio Grande do Norte como: Caiçara do Norte, São Bento PB, Natal, Messias Targino e outras cidades. Em Patu participo todos os anos da Festa da Padroeira, Feira da Cultura e do carnaval de rua.
P.A.: O senhor acredita que a tradição do Boi de Reis será mantida depois que o senhor parar?
A: Acredito que sim. Eu vejo o interesse do professor Aluísio Dutra de Oliveira, hoje uma espécie de diretor do Boi de João de Artur. Ele já disse que pretende dar continuidade a cultura do Boi, eu fico muito feliz em saber que a cultura do Boi vai continuar existindo.
P.A.: O professor e escritor Aluísio Dutra, assim como o escritor e pesquisador Social Epitácio Andrade Filho, tem sido seus grandes incentivadores e responsáveis pela divulgação do seu trabalho. O Senhor acredita que eles podem segurar essa bandeira de manter viva a tradição do Boi de Reis e do folclore popular em Patu?
JA: Acredito sim. Dr. Epitácio Filho é um grande amigo meu e da minha família, me ajudou muito e com certeza vai continuar ajudando. O professor Aluísio Dutra, que é meu genro, me ajuda muito na organização do Boi, ele divulga, já escreveu até livro retratando a cultura do Boi e a minha história. Acredito que ele vai dar continuidade a essa cultura tão importante para Patu e para o Rio Grande do Norte.
P.A.: O senhor ainda tem esperança de que após passar esse período da pandemia, o Boi de João de Artur possa voltar a promover seus cortejos pelas ruas de Patu e outras cidades do RN?
JA: Sim. Tenho esperança que tudo isso vai passar logo para que o Boi possa sair desfilando pelas ruas de Patu e da região, se Deus quiser.
P.A. O que o senhor pretende fazer para que a tradição do boi e do folclore seja mantida em Patu?
JA: Estou fazendo a minha parte, mantendo e conservando o meu Grupo Folclórico, enfrentando dificuldades, mesmo não sendo muito valorizado por certas pessoas. Antigamente muitas pessoas acompanhavam Boi e os demais bonecos pela diversão, brincadeira, hoje tem que se pagar um tal de cachê para conduzir os bonecos, isso me deixa triste.
P.A.: Que mensagem o senhor gostaria de deixar para os gestores públicos e as pessoas responsáveis pela cultura?
JA: Eu peço aos prefeitos, vereadores e demais pessoas da área de cultura que valorizem a cultura de nossa cidade, não é fácil manter uma tradição de 45 anos, foi muita luta para chegar até aqui. Estou com 86 anos e infelizmente não vejo a cultura como prioridade.