Rio Grande do Norte completa 35 dias sem mortes em decorrência da covid registradas
O Rio Grande do Norte atingiu a marca de 35 dias sem mortes por covid-19 nessa quinta-feira (19). Este é o período mais longo sem óbitos desde 28 de março de 2020, data da primeira morte pela doença em território potiguar. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) o dia 14 de abril passado registrou a última notificação de óbito no RN. Especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE são unânimes: a vacinação é fator primordial neste cenário.
O infectologista André Prudente, diretor do Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, afirma, no entanto, que outras razões podem ter contribuído para a ausência de mortes. “Com o desenrolar da pandemia, as pessoas ficaram menos suscetíveis à doença, porque, muita gente adoece e adquire imunidade por certo tempo. Com isso, o número de casos confirmados de covid reduz, o que diminui, consequentemente, os óbitos.”, explica.
“Também podemos atribuir o quadro atual ao fato de não existir mais fila para regulação. Sabemos que a falta de leitos adequados para o tratamento da doença pode contribuir com estágios que levam à morte. Pode-se associar, ainda, à experiência das equipes de saúde, que aprenderam ao longo da pandemia e têm conseguido salvar mais vidas do que no início da crise sanitária”, afirma André Prudente.
O infectologista ressalta, contudo, que o papel da vacina é preponderante para o cenário atual. Ele chama a atenção para a população não vacinada, que é a parcela que mais evolui para casos graves da doença hoje em dia. Segundo Prudente, todos os três pacientes intubados no Giselda Trigueiro na manhã da quinta-feira não estavam imunizados contra a covid-19.
Carolina Damásio, infectologista do Instituto Santos Dumont, em Macaíba, avalia que a imunização é o fator de importância principal para o cenário, mas faz um adendo: os resultados poderiam ser bem mais satisfatórios se não tivéssemos enfrentado problemas com a campanha de vacinação. Além disso, ela lembra que a pandemia não acabou.
“Os dias sem mortes merecem ser comemorados, mas ainda é preciso cautela. Não estamos fora da pandemia e os números de pessoas contaminadas voltaram a crescer na América do Norte, significativamente, e também no Brasil”, alerta.
“Na América do Norte, os números voltaram a subir tanto para novas infecções como internações nos últimos dias, e a curva de elevação está mantida há sete semanas conforme dados divulgados na quinta-feira pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). No Brasil, os casos de infecção pela covid-19 registram alta de 9%”, complementa, sem seguida.
A infectologista sublinha que uma parte da população não está imunizada, algo que deve ser tratado com cuidado pelas autoridades. “Há, ainda, uma significativa parcela da população não vacinada contra a doença ou que tem doses de reforço em atraso, mesmo com inúmeros estudos comprovando o benefício, importância e segurança das vacinas desenvolvidas”, diz.
Perigo de novas cepas não desapareceuTanto André Prudente quanto Carolina Damásio alertam sobre a necessidade de atualização das doses da vacina, conforme preconizado pelos órgãos de Saúde do País. As variantes, responsáveis por repiques na pandemia, como o que aconteceu no começo do ano com a cepa Ômicron, devem servir de mais um motivo para a imunização.
De acordo com os especialistas, as infecções ocorridas a partir das mutações até podem gerar certa imunidade, mas não protegem contra novos tipos de cepas. André Prudente explica que não há registro de novas variantes após os registros da Ômicron no Estado. Ainda assim, na avaliação de Carolina Damásio, o importante é manter a atenção e apostar na vacina.
“A grande transmissibilidade da Ômicron nos primeiros meses de 2022 e a consequente grande quantidade de pessoas infectadas que gerou certo grau de imunidade contra a doença, pode ter contribuído sim para o cenário atual junto com a vacinação. Porém, já sabemos que a imunidade contra uma variante (por infecção) não confere imunidade contra novas variantes”, esclareceu Carolina Damásio.
Dados da plataforma RN + Vacina indicam que 93% dos potiguares receberam a D1 ou dose única e 84% estão totalmente imunizados (receberam a D2 ou dose única). Entretanto, apenas 48% receberam a dose de reforço (D3). Em uma análise por faixa etária, é possível notar que o número de pessoas com doses em atraso é maior entre os mais jovens.
Na faixa acima dos 60 anos, são 8.333 doses em atraso; na faixa dos 18 aos 59 anos, são 130.272 doses atrasadas; entre aqueles com idade entre 12 a 17 anos, são 47.268 doses em atraso; para os que têm entre 5 e 11 anos, o número de doses atrasadas é de 63.077.
O infectologista André Prudente reconhece que o perfil de internados no Giselda Trigueiro tem apontado para a presença de uma população essencialmente jovem, justamente aqueles não imunizados. “A média de idade de pessoas internadas aqui é de 37 anos. Para se ter uma ideia, a idade dos três intubados é 35, 36 e 38 anos”, relatou.
Especialistas destacam a importância do reforçoEntre os especialistas ouvidos pela TN, o apelo é para que as pessoas busquem a imunização. “É importante a vacinação de todos os grupos recomendados e das atualizações das doses de reforço nos grupos de risco como idosos e imunossuprimidos, que necessitam das doses extras para manter a imunidade elevada ao longo do tempo”, reforça a infectologista Carolina Damásio, do ISD.
“Todas as lendas e fake news contrárias à vacina se mostraram falidas. Milhões de pessoas foram imunizadas em todo o mundo e a gente, praticamente, não vê reações graves. No RN, não há um caso grave sequer. Ninguém morreu por causa da vacina, mas muitas pessoas morreram da doença. É importante que as pessoas tomem todas as doses adequadas para que a gente acabe com a pandemia de uma vez por todas”, destaca André Prudente, do Giselda Trigueiro.
As doses em atraso no Estado parecem ser um reflexo do cenário em todo o País. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destacou esta semana a preocupação com a estagnação do crescimento da cobertura vacinal no Brasil.
A declaração da Fiocruz se deu com a divulgação do Boletim Observatório Covid-19, da própria instituição. “A análise [da situação no País na primeira quinzena de maio] aponta que, na população acima de 25 anos, a cobertura para o esquema vacinal completo é de 80%. No entanto, em relação às faixas etárias, os dados mostram que a terceira dose nos grupos mais jovens segue abaixo da média considerada satisfatória”, disse a Fiocruz.
A análise aponta cobertura de 63,9% de 55 a 59 anos; 57,9% de 50 a 54 anos e 52,8% de 45 a 49 anos. O percentual diminui gradualmente: de 40 a 44 anos é de 49,8%; de 35 a 39 anos é de 44,7%; de 30 a 34 anos é de 40,3%; de 25 a 29 anos é de 35,5%; de 20 a 24 anos é de 30,4% e de 18 a 19 anos é de 25,2%.
Tribuna do Norte